Arte, fé e poder




# 1- Q.E.L.A.





Quero começar essa reflexão percurtindo nas origens remotas do surgimento do homem como agente na transformação da natureza a margem da história.

A “tékne” para o homem surgiu como forma de trabalho, uma condição qual necessária para que se efetuasse um intercâmbio entre o homem e a natureza.
Assim com o trabalho, o homem apoderou-se da natureza, transformando-a e dando-lhe formas novas por meios mágicos.
Com esse trabalho, refratário aos valôres estéticos, tais como: superfície, massa, proporção entre as formas, planos, operava-se essa mágica como estratagema para a coletividade.

Formas que plasmadas pelo conhecimento social adquirido, evoluído pela atividade coletiva do trabalho, encontrava a eficiência da mágica de um conteúdo, e como “poíeses”, criava suas fantasias.
A relação entre, devoção religiosa e a cultuação "post-mortem" foi uma das dificuldades de compreender questões entre poder, fé e a arte.
Algumas transformações do lugar representaram tamanha soma de esforços físicos, com ciência, habilidade e organização social que somente a devoção para tais intentos poderiam provocá-las.
Essa “tékne” preponderantemente a serviço do domínio da natureza e suas relações sociais, faz a mãe de tudo.
A guerra, paragonando com Heráclito, traz o ato guerril para o amansamento da natureza.

Numa resultante jungueana a produção de obras de arte em juízo de valor, o próprio as considerava inferior ao nascimento das idéias religiosas.
Contudo, sem observação da ação criativa, estabelecia-se as raízes do “eu”, no desenvolvimento do homem e percebia-se um divino.
A imaginação consoante as necessidades criava as ferramentas pelas destrezas manuais, vindas da consciência desenvolvida “lenta e laboriosamente” que instigava o surgir da inteligência.
Essa consciência manifestada por uma visão socialmente condicionada pelas formas artísticas, “poiésis”, mostrou um novo nível de consciência, o nível simbólico, conduzindo a formação de grupos antes isolados de pessoas com certos interesses, para grupos com interêsses comuns.

Característica comum, a devoção, contribuiu para o interêsse dos grupos estabelecerem relações entre si, buscando conhecimento do mundo em que viviam.
A natureza-matéria transformada em forma objetiva, como artefatos, impõe a necessidade de qualificar esse topos originador, trazendo-o da topotesia.
O mundo como “sítio humano”, orientado e dimensionado para estruturar o homem em suas dimensões psíquicas, físicas e espirituais organizado por artefatos, orientam lugares.
Como o lugar é uma parte do ser, espaço aparelhado, estabelece a comunicação entre as dicotomias, dentro, fora, em cima, embaixo, perto, longe, grande, pequeno, e outros aspectos toporâmicos.

Na vivência do espaço etológico, marcada a natureza, invadida, apropriada, houve o trabalho de transformação das coisas para extensão dos membros na criação das “ferramentas para ferramentas”.

Pela transformação imperiosa da natureza houve os intervalos, os processos, os sincretismos, ordenando o lugar.
Nos questionamentos dos aspectos de abordagem para a ocupação do espaço com a objetividade referenciada no tempo histórico-social, a monumentalidade sincretizou a transformação simbólica do lugar, e isso foi com a arte.
Essa arte física, ocupando o espaço tinha um objetivo material, penso assim.
O objetivo dessa arte na paisagem ocupando um determinado lugar com uma determinada forma, com determinados materiais, era o poder material.
No transcorrer, com a obtenção de bens que demonstravam poder, ocorria uma outra ocupação espacial, agora mental.
Qual ocupação mental senão pela fé que depositada na arte louvava e temia a deuses.
Como retribuição, no dever de a Deus louvar pelos ganhos materiais obtidos, a arte iniciou sua trajetória na ocupação de um espaço mental.

Bibliografia:

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